quinta-feira, 25 de outubro de 2012


Em continuidade as atividades do curso , neste módulo o grupo deverá desenvolver uma notícia para um jornal popular...Então , para teorizar nossa atividade um texto que traz informações sobre o gênero jornalístico. Bons estudos !


Gêneros Jornalísticos


Por Felipe Araújo
Por representarem manifestações culturais e estarem ligados a fatos que alteram decisões sociais, os gêneros jornalísticos devem ser estudados como um fenômeno histórico. Seria difícil classifica-los, pois os gêneros estão sempre em transformação e se alteram de acordo com cada país e cultura.

Para buscar uma análise mais profunda sobre gêneros, utiliza-se o exemplo de Platão na classificação entre gênero sério e burlesco. O primeiro envolvia a epopéia e a tragédia, já do segundo, faziam parte a sátira e a comédia. Para Platão, a poesia seria apenas um simulacro da realidade, impedindo o homem de conhecer a si mesmo e jogando-o no mundo das paixões, o que dificultaria sua relação com o mundo das ideias. O filósofo definiu três gêneros: mimesis (tragédia e comédia), expositivo (ditirambo, nomo) e misto (epopéia), que mistura ficção com realidade.
Jacques Derrida, pensador francês contemporâneo, afirma que “os gêneros não devem ser misturados, como um voto de obediência, como um voto de compromisso e fidelidade, sendo assim fiel à lei do gênero, à lei da pureza”. Porém, o próprio autor contradiz-se, pois, ao analisar o limite dos gêneros, cai na seguinte questão: “até que ponto um gênero pode ser contaminado por outro gênero?”.
Um leitor, ao deparar-se com o livro Os Lusíadas, de Camões, onde fatos e ficção estão reunidos em uma epopéia, tem em mãos o estilo híbrido, ou misto, na definição de Platão. Até em uma reportagem no estilo gonzo, na qual Hunter Thompson utilizava sua imaginação, fatos e alucinações para descrever acontecimentos “reais”, há, sem dúvida, a presença do hibridismo em sua formam mais extrema. Nas palavras do escritor americano William Faulkner, “a verdade se parece mais com a ficção do que com jornalismo”. Ou seja, o hibridismo é utilizado como uma forma de aumentar as interpretações sobre determinado acontecimento, abolindo a primeira concepção de Derrida sobre uma suposta “pureza” definida pela lei dos gêneros.

Gêneros Discursivos

O discurso pode ser de ordem expositiva, sobre um determinado assunto. Mas também pode ser discorrido, em ato de comunicação linguística.

Gêneros Midiáticos

Definir este tipo de gênero não é tarefa fácil. Na opinião do professor José Marques Melo: “classificar gêneros jornalísticos é o maior desafio”. Ele explica que a configuração da identidade do jornalismo, enquanto objeto científico e o alcance de sua autonomia que passa inevitavelmente pela sistematização dos processos sociais inerentes à captação, registro e difusão da informação da atualidade, ou seja, do seu discurso manifesto, tornam as classificações indiretamente perceptíveis.
Os gêneros servem para aumentar a compreensão da grande quantidade de textos veiculada pela mídia. De acordo com estudiosos, as definições aparecem no estilo e no manejo da linguagem. Outros preferem analisa-las pela obrigatoriedade de serem interessantes e motivadoras para o leitor, ou seja, definidas por sua forma mais vendável.
Há também uma corrente que diz que a diferença está justamente na forma como o texto é escrito, podendo ser jornalismo noticioso ou literário. Devido a esta dificuldade de análise e as múltiplas propostas sugeridas pelos pesquisadores da comunicação, o peruano Juan Gargurevich chegou a algumas das definições utilizadas no jornalismo atual:
  • Entrevista: permite ao leitor conhecer opiniões das pessoas envolvidas no ocorrido
  • Crônica: Trata de assuntos cotidianos de maneira literária
  • Reportagem: Relato ampliado de um acontecimento. Com pesquisa de campo.
  • Gráficos: Informação na forma de sinais, desenhos, figuras, signos.
  • Colunas: Espaço na publicação onde uma pessoa escreve regularmente.
  • Artículos (Artigos): Textos opinativos sempre assinados.
  • Testemunhos: Narração real e circunstanciada que se faz em juízo; depoimento, declaração da testemunha.
  • Resenhas e críticas: Apreciação de um trabalho artístico, orientando o leitor
A partir do século XIX, a notícia torna-se mais evidente e se consolida com os acontecimentos da época. De acordo com os pesquisadores Armañazas e Noci Apud Melo, o gênero jornalístico denominado notícia tornou-se a base das publicações daquele século. Firma-se, neste momento, um acordo onde o jornalista não pode transgredir o campo que separa o real da ficção. Assim, surge um “acordo de cavalheiros” entre jornalistas e leitores para tornar possível a leitura das notícias como a da realidade.
Notícia é tudo que o público precisa saber e tudo que o público deseja falar, pois a sinergia entre leitores e publicações acaba por alterar formatos, linhas editoriais e conteúdos. Lida também com interesse humano e informações da atualidade.
Para designar melhor os gêneros de uma época e de um país, Marques Melo propõe fazer uma classificação degêneros jornalísticos brasileiros, configurando um agrupamento em categorias correspondentes à intencionalidade dos relatos, identificando dois tipos:
  1. A reprodução do real: através da qual o jornalista comunica os fatos noticiosos
  2. Leitura do real: jornalismo opinativo, no qual existe uma análise da realidade dentro de uma conjuntura temporal.
Porém, um problema nesta classificação é a questão do que pode ser considerado real. Será que o jornalista não altera a realidade de uma forma ou outra em seu relato? Existiria uma objetividade jornalística? Para responder estas perguntas, conclui-se que a relação do ser humano com o real é subjetiva, isso não permite sua reprodução fiel. As pessoas, dotadas de sentidos, captam a realidade de fora para dentro, assim, ninguém tem a mesma percepção dos fatos. Isso transforma objetividade jornalística em uma lenda.
Um verbete encontrado no próprio Manual de Redação do Jornal Folha de São Paulo explica que:
“Objetividade – não existe objetividade em jornalismo. Ao redigir um texto ou a editá-lo, o jornalista toma uma série de decisões que são, em larga medida, subjetivas, influenciadas por suas posições pessoais, hábitos e emoções”.

Gêneros jornalísticos

Podem servir para integrar um diálogo entre o jornal e o leitor. É através da exigência dos leitores que os conteúdos modificam-se. Sua organização provém da forma como as empresas de comunicação editam o conteúdo. Marques Melo propõe uma organização de tais gêneros da seguinte forma:
  • Gêneros informativos: Nota, notícia, reportagem, entrevista, título e chamada.
  • Gêneros opinativos: Editorial, comentário, artigo, resenha ou crítica, coluna, carta, crônica.
  • Gêneros utilitários ou prestadores de serviços: roteiro, obituário, indicadores, campanhas, “ombudsman”, educacional.
  • Gêneros ilustrativos ou visuais: gráficos, tabelas, quadros, demonstrativos, ilustrações, caricatura e fotografia.
  • Propaganda: Comercial, institucional e legal.
  • Entretenimento: Passatempos, jogos, história em quadrinhos, folhetins, palavras cruzadas, contos, poesia, entre outros.
Os títulos encontram-se dentro dos gêneros informativos, assim como a fotografia é um dos componentes dosgêneros visuais. No caso dos títulos, sua importância no jornalismo deve-se ao despertar do interesse público. Sabe-se que a maioria dos leitores passa os olhos apenas nas manchetes, daí a relevância de um título bem elaborado.
A fotografia é a junção perfeita da palavra com a imagem. Um recorte da realidade que oferece a oportunidade de interpretação da informação visual. Já a caricatura, da qual a charge faz parte, é uma representação gráfica com personagens que ilustram as abordagens jornalísticas de certo período. Geralmente tem tom satírico e refletem as opiniões dos cartunistas sobre determinado assunto, por isso sua inclusão nos gêneros ilustrativos.
Fontes:
http://intercom.org.br/papers/viii-sipec/gt05/40-%20Jorge%20Lellis%20-%20trabalho%20completo.htm
http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/3196/3196.PDF
Novo Manual da Redação – Folha de São Paulo. Editora Folha de São Paulo. São Paulo. 1992.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Vídeo que aborda a importância da leitura na infância


Depoimento de Renata Asbahr


Depoimento – Experiências com a leitura e escrita

Eu sempre usei livro pra tanta coisa, que a coisa que mais me espanta é ver gente vivendo sem livro. (Lygia Bojunga)

                Os livros e a leitura sempre estiveram presentes em minha trajetória de modo bastante significativo, marcando fortemente minha vida pessoal e profissional. Em todos os momentos da minha vida, os textos escritos, especialmente os literários, sempre me acompanharam: nas viagens, nos percursos de ônibus, nos momentos de lazer, nas alegrias, nas decepções etc. A paixão pela leitura é uma de minhas principais características e foi decisiva em minha escolha profissional. A menina e a garota leitora tornaram-se professora de Português.
                Quando relembro as vivências passadas, várias cenas me vêm à memória. Em minha infância, por exemplo, lembro-me de uma visita à casa de duas colegas, que eram um pouco mais velhas do que eu (à época eu devia ter uns oito anos). Lá encontrei, no quintal, um verdadeiro tesouro: uma cabaninha cheia de gibis da Turma da Mônica. Passei o dia inteirinho entretida com as histórias, recusando todas as brincadeiras que me propunham. A hora de ir embora foi bastante penosa, pois tive que deixar aquelas pilhas de gibis coloridos e atraentes... Até hoje sou fã de Mauricio de Sousa e leio sempre as HQs da turminha!
 Já adolescente, por sugestão de um professor, li a obra O mulato, de Aluísio Azevedo. Estava na 7ª série e foi o meu primeiro romance adulto. O professor tinha sugerido apenas o primeiro capítulo, mas não consegui mais parar de ler. Fiquei encantada com as cenas descritivas e a história trágica de Raimundo. Após essa leitura, comecei a encarar vários livros longos e me apaixonei por muitos clássicos da literatura. No Ensino Médio, as aulas de Literatura eram minhas preferidas e, sempre que os professores contavam uma história interessante, eu procurava ler a obra. Meu repertório, assim, era muito maior que as leituras obrigatórias.
Na faculdade, tive sorte de poder escolher várias das disciplinas que cursei. Minha escolha, é claro, tinha a ver com literatura: estudei, como matérias optativas, as literaturas árabe, grega, sânscrita, angolana, moçambicana, russa, infanto-juvenil, latino-americana etc. Meu primeiro salário – na verdade a primeira parcela da bolsa de Iniciação Científica – foi todo gasto em livros!
                Quanto à escrita, o gosto por escrever também foi uma característica forte de minha infância e adolescência. Quando menina, adorava escrever livrinhos e, sempre que visitava os tios e avós, passava horas produzindo histórias e fazendo ilustrações. Tenho vários desses livrinhos guardados e, quando os leio, me surpreendo com a criatividade que tinha. Na adolescência, fui adepta dos diários e escrevia quase que diariamente, relatando fatos do cotidiano e refletindo sobre as angústias e os anseios típicos dessa fase. Com a entrada na faculdade, infelizmente, fui pouco a pouco abandonando essa escrita mais livre e me familiarizando com a escrita acadêmica. A leitura por prazer, no entanto, continua sendo uma prática constante em minha vida, por isso estranho, tal como Lygia Bojunga, as pessoas que vivem sem livros.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012



Leitura e escrita são tarefas da escola e não só do professor de português


A tarefa de ensinar a ler e a escrever um texto de história é do professor de história e não do professor de português. A tarefa de ensinar a ler e a escrever um texto de ciências é do professor de ciências e não do professor de português. A tarefa de ensinar a ler e a escrever um texto de matemática é do professor de matemática e não do professor de português. A tarefa de ensinar a ler e a escrever um texto de geografia é do professor de geografia e não do professor de português. A tarefa de ensinar a ler e a escrever um texto de educação física é do professor de educação física e não do professor de português. A tarefa do professor de português é ensinar a ler a literatura brasileira.
Ler e escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante, que é responsabilidade da escola. Ensinar é dar condições ao aluno para que ele se aproprie do conhecimento historicamente construído e se insira nessa construção como produtor de conhecimento.
Ensinar é ensinar a ler para que o aluno se torne capaz dessa apropriação, pois o conhecimento acumulado está escrito em livros, revistas, jornais, relatórios, arquivos.
Ensinar é ensinar a escrever porque a reflexão sobre a produção de conhecimento se expressa por escrito.
Numa primeira instância, ensinar a ler e escrever é alfabetizar, levar o aluno ao domínio do código escrito. E já aqui é preciso rever a crença de que ao alfabetizar-se o aluno não está propriamente aprendendo uma língua, mas apenas transpondo a língua que já fala para um outro código. Isso não é verdade para nós, aqui no Brasil. Os estudos de nossa língua falada, levados a efeito por vários pesquisadores, entre eles um grande grupo de linguistas de todo o Brasil reunidos no Projeto de Gramática do Português Falado, estão mostrando não só que há uma grande variação linguística (geográfica e social) interna no País - ao contrário do que sempre disse o mito da unidade linguística brasileira -, mas também que a língua que falamos difere muito da língua falada em Portugal, a qual deu origem ao português escrito.
Na verdade, hoje podemos dizer que falamos uma língua e temos de aprender a ler e escrever em outra língua.
E esse novo saber que a ciência da linguagem nos proporciona faz duas revelações de transcendental importância a nosso respeito:
a) nós, de fato, falamos muito maio português, não porque sejamos estúpidos, incompetentes, vagabundos, desleixados, incapazes, como sempre tentaram nos fazer crer, mas porque falamos - muito bem, tão bem quanto qualquer outro povo do mundo – uma outra língua, parecida com o português, com a qual somos capazes de dar conta de nossas necessidades expressivas;
b) nós falamos uma língua apenas parecida com o português e, por razões de política cultural, temos de aprender a ler e escrever em português.
Por que são tão importantes essas revelações? Porque, em primeiro lugar, podemos deixar de nos culpar por não termos aprendido a ler e escrever direito na escola, pois a escola tentou ensinar-nos a ler e escrever em português como se fôssemos falantes de uma língua cujas frases têm sujeito e predicado, cujos pronomes pessoais mudam de forma conforme a função sintática que exercem na frase, com desinências verbais próprias para as segundas e as terceiras pessoas, cujos futuros são simples e em que o adjetivo concorda com o substantivo. Como a língua que falamos' não tem nada disso, agora podemos pôr a culpa na escola, que não nos ensinou direito e nos culpou por não termos aprendido.
Em segundo lugar, porque podemos, agora, começar a pensar num modo mais adequado de ensinar a ler e escrever nessa língua que não falamos, nessa língua apenas parecida com a língua que falamos nessa língua estrangeira. E aí está um rumo: o aprendizado de uma língua estrangeira começa pela familiaridade que desenvolvemos com ela. Logo, nós só vamos aprender a ler e a escrever em português se praticarmos bastante a leitura e a escrita em português, se praticarmos muito mais do que nos mandaram praticar. Onde? Só tem um lugar: na escola.
E só tem um meio: nós, professores de todas as áreas, em vez de, nos limitarmos a choramingar que nossos alunos não têm o hábito da leitura, devemos nos dedicar a proporcionar muitas e muitas oportunidades para que todos descubram que ler é uma atividade muito interessante, que a leitura nos proporciona prazer, diversão, conhecimento, liberdade, uma vida melhor, enfim. E essas oportunidades terão de ser tantas quantas forem necessárias para que o aluno passe a gostar de ler e por isso, contraia a necessidade da leitura e que esta vire hábito.
Oportunidade de ler o quê? Tudo, pois o único lugar onde a televisão ainda pode ser desligada é na escola. A sala de aula é o único lugar onde as crianças podem ser colocadas quietas nos seus cantos com um livro na mão para aprender que ler é um diálogo solitário com um texto que se vai desvelando ao seu olhar. E para a grande maioria de nossas crianças a escola é o único lugar onde há livro - e não só as da classe popular, onde não sobra dinheiro para comprar livro, mas também na classe média, onde o dinheiro que sobra não costuma comprar livro. Ler tudo, desde as banalidades que possam parecer divertidas até as coisas que o professor julga que devem ser lidas para o desenvolvimento pessoal do aluno como pessoa sensível, civilizada, culta, como cidadão, para o estabelecimento de seu senso estético, de sua solidariedade humana, do seu conhecimento. Isso é tarefa do professor de português? É. É tarefa do professor de história, de geografia, de ciências, de artes, de educação física, de matemática... E. E tarefa da escola: a escola – os professores reunidos na mais básica das atividades interdisciplinares - vai reservar alguns períodos da semana para que os alunos se dediquem, em suas salas de aula, à leitura individual, solitária, silenciosa de todo tipo de material impresso: livros, jornais, revistas noticiosas e especializadas, romances, contos, ensaios, memórias, literatura infanto-juvenil, literatura adulta, paradidáticos de todas as áreas, textos de todo tipo, enfim, postos à sua disposição para que o exercício da leitura os transforme em leitores. E vão ler a respeito de quê? Nessa leitura interdisciplinar de formação de leitores vão ler, principalmente, o que acharem interessante: começando por histórias de aventura e de amor, que satisfaçam sua necessidade de fantasia, passando por poemas de todo tipo, que dêem vazão aos seus sentimentos e os organizem, passando por reportagens de atualidades, de divulgação científica, que encaminhem sua curiosidade e forneçam uma base para dimensionar o mundo em que vivem, notícias sobre a cidade, sobre o estado, o país, ensaios sobre história do Brasil, da América, do mundo, sobre os problemas do presente, sobre outros povos, contemporâneos ou antigos, sobre a política, os costumes, os esportes, a tecnologia, as ciências, as artes etc.
Trata-se fundamentalmente de exercitar a leitura para praticar, numa primeira instância, a decodificação da escrita, adestrando o olho para enxergar mais do que uma letra de cada vez, mais do que apenas uma palavra, para entender os processos de construção das palavras (os radicais, os afixos, as desinências), para enxergar as discrepâncias que caracterizam a ortografia, para atribuir significado a expressões, a metáforas, para familiarizar-se com a sintaxe da língua escrita (a concordância verbal e nominal, as formas e os tempos verbais, o uso das preposições, as conjunções e outros nexos), para entender o significado dos sinais de pontuação, o das letras maiúsculas e o das minúsculas, o das margens do texto, para construir um repertório de enredos, de personagens, de raciocínios, de argumentos, de linhas de tempo, de conceitos que caracterizam as áreas de conhecimento, para, enfim, movimentar-se com desenvoltura no mundo da escrita. Esta leitura de formação de leitor visa desenvolver no aluno a familiaridade com a língua escrita através da leitura de todo o tipo de texto, numa quantidade tal que o faça gostar de ler e de perceber a importância da leitura para sua vida pessoal e social, transformando-a num hábito capaz de satisfazer esse gosto e essa necessidade.
E como os professores trabalhariam com esses livros? Ensinando a ler, começando por colocar o aluno na mais adequada postura para ler: sentados em silêncio - administrando a retirada dos livros, conversando com o aluno que solicitar orientação a respeito do assunto do livro, incentivando-o a olhar no dicionário alguma palavra-chave para o entendimento do texto, ajudando o aluno a usar o dicionário, fornecendo-Ihe indicações bibliográficas nas quais poderá procurar mais informações a respeito de um assunto que lhe despertou interesse mais forte, estimulando esse interesse, incentivando-o a falar aos colegas a respeito do que está lendo, a trocar impressões com os colegas a respeito de leituras comuns.
E por que em sala de aula e não na biblioteca? Porque a sala de aula é o lugar onde o professor ensina, onde ele mostra, por sua presença e sua atuação, a importância da leitura: ele traz os livros, apresenta-os, quer que todos escolham o que vão ler, fica sabendo do interesse que se vai formando em cada um, faz sugestões, discute e aprofunda os assuntos, responde perguntas e lê com seus alunos. A biblioteca é o lugar de outra magia: lá está o tesouro inesgotável do conhecimento construído historicamente pela humanidade. Na biblioteca, o aluno, explorando o seu acervo, vai expandir seus interesses: vai descobrir que existem enciclopédias, mapas, atlas, manuais, revistas, livros de todo o tipo e sobre todos os assuntos, ou vai con-centrar-se numa leitura de aprofundamento de um determinado interesse criado na leitura em sala de aula. A sala de aula é lugar da criação de um vínculo com a leitura, pela inserção do aluno na tradição do conhecimento. A biblioteca é o lugar do cultivo pessoal desse vínculo; lá se processa o amadurecimento intelectual.
Ao lado dessa atividade de leitura orientada pelo gosto, pelo prazer de atribuir sentido a um texto, cada professor, na aula de sua respectiva área (ou dois ou mais professores em trabalho multidisciplinar), vai promover a leitura de textos que valem a pena ser
aprofundados: agora todos vão viver o encantamento da descoberta dos muitos sentidos em um texto decisivo para o conhecimento produzido pela humanidade. Esta leitura de inserção do aluno no universo da cultura letrada desenvolve a habilidade de dialogar com os textos lidos, através da capacidade de ler em profundidade e interpretar textos significativos para a formação de sua cidadania, cultura e sensibilidade.
O mesmo para a escrita: se nós, professores de todas as áreas, proporcionarmos a nossos oportunidades para que escrevam muito para dizer coisas significativas para leitores a quem querem informar, convencer, persuadir, comover, eles acabarão descobrindo que escrever não é aquela trabalheira inútil de preencher 25 linhas, de copiar livro didático e pedaços de enciclopédia. Nossos alunos descobrirão que são capazes de escrever para dizer a sua palavra, para falar deles, de sua gente, para contar a sua história, para falar de suas necessidades, de seus anseios, de seus projetos e acabarão por descobrir que são gente, que têm o que dizer, que têm história, que têm necessidades, anseios, que têm direito a satisfazer suas necessidades, a fazer projetos, que podem aspirar a uma vida melhor, enfim.
Por isso, cada professor em sua sala de aula vai vincular - através da produção escrita - conteúdos específicos das áreas com a vida de seus alunos, solicitando-lhes que escrevam sobre aspectos de suas vidas, propondo que esses textos sejam lidos para os colegas e discutidos em sala de aula. Cada professor lerá esses textos com interesse pelo que dizem e não apenas para corrigir o português ou verificar o acerto de suas respostas. Orientará a desses textos para que digam com mais clareza e mais precisão o que querem dizer. E mandará ler um poema, uma notícia, um conto, uma reportagem, um artigo, um livro que diga coisas interessantes a respeito de um tema suscitado nas discussões desses textos, aprofundando essa leitura com os alunos e pedindo que voltem ao assunto para incorporar os dados novos trazidos por essa leitura, dando continuidade à discussão.

Fonte:
GUEDES, Paulo Coimbra; SOUZA, Jane Mari de. “Leitura e escrita são tarefas da escola e não só do professor de português”. In: Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre, RS: Editora da UFRGS, 2011; 9. ed.

sábado, 20 de outubro de 2012


Segundo Leonardo Boff “ cada ponto de vista é a vista de um ponto. Cada um vê a realidade a partir de onde os seus pés pisam ...”

Não tenho como rememorar minha história com  leitura se não reportar a minha natural vocação desde criança. E essa memória está ligada com a escola pública , visto que a minha formação escolar foi desenvolvida no espaço da rede estadual de ensino de São Paulo.. Portanto, para mim a escola pública tem uma importância fundamental na minha vida pessoal e profissional, pois foi na escola pública que construí as minhas primeiras palavras e li as minhas primeiras linhas. Foi na escola pública que me fiz um ser humano e me tornei um ser social.
 Lembro-me desde criança brincando de escolinha com a lousa pequena e o giz branco com meus irmãos ensinando-os as primeiras letras que há tão pouco aprendera na minha primeira série com a Prof.ª Ivone. Cada traço mal desenhado naquela pequena lousa no meu mundo infantil trazia a certeza de uma vitória frente ao que até então parecia um mundo aterrorizante... que eram aquele bailado de letras se misturando , se embaralhando nas páginas de um jornal que meu pai com todo afinco tentava ler aos domingos , mesmo com as minhas contínuas interrupções  na busca pela decifração daquele código que fazia meu pai permanecer por horas entretido.O esforço que empreendi na escola era para ter o privilégio de dividir com o meu pai aquele mágico manuscrito. E claro que a minha primeira leitura aconteceu em uma manhã e domingo bem cedinho (de propósito: para ser a primeira a pegar o jornal!) e balbuciando a manchete de primeira capa . A partir daquele momento me tornei uma grande leitora e consumi muita literatura infantil. Monteiro Lobato com o seu aclamado sítio do Pica-Pau Amarelo me cativou e aos nove anos já tinha lido toda a coleção.
Foram tantas as aventuras, as viagens que realizei por meio da leitura que me tornaram possível vencer muitos obstáculos na minha adolescência.
O livro sempre foi um grande amigo para mim em inúmeras fases da minha vida.
E como não podia deixar de ser me formei em Letras a fim de tornar essa minha paixão o meu instrumento de trabalho.